VIII
Negra é a erva, Pai,
negra é a terra,
negros são os meus pensamentos,
porque eu sou um pobre ser humano.
Negra é a terra,
negro é o pôr do Sol,
negra é a minha mensagem.
Negro é o casaco que nunca mais me deixará,
negras são as estrelas da minha travessia,
negra é a ideia da minha morte.
Onde é que eu descobri este negro, este negro inimigo da língua?
IX
Já não tenho medo.
Não tenho medo
do que há-de vir.
Extingui a minha fome,
bebi o meu tormento até à última gota,
a minha morte torna-me feliz.
Levo os meus peixes
para o monte.
Nos peixes está tudo
o que deixo ficar.
Nos peixes está a minha tristeza,
e o meu fracasso está nos peixes.
Direi
como é esplêndida a Terra, quando eu chegar,
como é esplêndida a Terra...
Sem precisar de ter medo...
Espero
que o Senhor me espere.
Thomas Bernhard, Na Terra e no Inferno, Assírio & Alvim, Lisboa, 2000 (tradução e introdução de José A. Palma Caetano)
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