VOLTO A PENSAR no teu sorriso, e ele é para mim uma água límpida
descoberta por acaso entre os seixos de um leito,
exíguo espelho onde olhas uma hera e os seus corimbos;
e por cima o abraço de um branco céu perfeito.
Esta é a minha recordação; não sei dizer, distância vã,
se no teu rosto se exprime livremente uma alma ingénua,
ou se és um fugitivo que o mal do mundo estenua
levando consigo o sofrimento como um talismã.
Mas isto posso dizer-te, que a tua pensada efígie
submerge os caprichosos desgostos numa onda rasteira,
e que a tua imagem se insinua na minha memória gris
simples como a copa de uma jovem palmeira...
Eugenio Montale, Poesia, Assírio e Alvim, José Manuel de Vasconcelos (trad.), 2004.
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