segunda-feira, 31 de agosto de 2009

«O Amante de Lady Chatterley», de D. H. Lawrence

D. H. Lawrence dava títulos aos seus livros que durante muito tempo me mantiveram afastada deles: O Amante de Lady Chatterley, Amor no Feno e Outros Contos, A Virgem e o Cigano, por exemplo. Pareciam-me títulos de romances de cordel dos do tipo de Eurico Cebolo ou de telenovelas avant la lettre.
Um dia um amigo disse-me mesmo muito bem de O Amante de Lady Chatterley e eu resolvi lê-lo. O esqueleto da história podia vagamente parecer-se com tudo isso, telenovela brasileira, romance de Eurico Cebolo, etc. Mas Lawrence devia ser um tipo muito observador e que, portanto, percebia muito de homens, mulheres, sexo e do frágil equilíbrio entre estes elementos, e isso percebe-se desde o princípio de O Amante de Lady Chatterley. Se ainda não o leram, façam como eu e quando puderem sigam o conselho do meu amigo. Deixo-vos um excerto.

Connie sentia-se fascinada quando a escutava, mas, logo a seguir, um pouco envergonhada. Não devia escutar com aquela estranha e violenta curiosidade. Afinal, as histórias mais íntimas de outras pessoas só devem ser ouvidas num espírito de respeito por essa coisa que luta e que sofre: a alma humana, num espírito de simpatia delicada, discriminativa. Porque até a sátira é uma forma de simpatia. É a maneira como a simpatia se dá e se retira que determina as nossas vidas. E neste ponto reside a enorme importância do romance, quando em mãos capazes. O romance pode informar e conduzir a novos lugares a corrente da nossa consciência simpatizante, e pode libertar a nossa simpatia de elementos mortos. Assim, o romance, quando em mãos capazes, pode revelar os lugares mais secretos da vida: pois é nos lugares da vida secretos e passionais que a maré da consciência sensitiva deve subir e descer, purificando e refrescando.

D. H Lawrence, O Amante de Lady Chatterley, António R. Salvador (trad.) Relógio d'Água, 2005.

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