quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A hora inclina-me e toca-me
com golpe claro, metálico:
Tremem-me os sentidos. Sinto: eu posso -
e agarro o dia plástico.

Nenhuma coisa era perfeita antes de eu a olhar,
todo o devir parava.
A cada um dos meus olhares, agora já maduros,
vem, como noiva, a coisa apetecida.

Nada é pequeno para mim, e amo-o apesar de tudo
e pinto-o em fundo de ouro, e grande,
e ergo-o ao alto, e não sei a quem
libertará a alma...

Rainer Maria Rilke, Livro das Horas, Livro Primeiro: O Livro da Vida Monástica (in Poemas, As Elegias de Duíno, Sonetos a Orfeu, Editorial Asa, Porto, 2003⁵, trad. Paulo Quintela)

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