quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

o rapaz como o poema
atravessa a luz e a cinza
percorrendo o caminho que
até casa desce numa claridade menor
de entardecer
a sombra dá-lhe pela cintura

o rapaz caminha à margem da alegria
da tristeza
como o gato sobe à árvore mais recuada
desenha-se no ponto mais recuado da íris
o movimento do corpo translada o espaço do silêncio
sem amargura a pedra concreta de cada dia percorre
o incêndio que desce aos campos
com a precisão de uma lâmina

o rapaz como o poema
atravessa o sangue rente à margem
atravessa para outro lado
sôfrego senta-se na planura do campo em cinza
sem angústia é a sua forma de deixar
tombar para trás a cabeça afundando os dedos na terra

a raiz mais perto dos dedos
escapa-se pela visão de uma luz magoada
que acerta pelo coração batendo dentro do peito

deixar como o poema escapar as palavras
segurar as primeiras imagens
ter chegado por entre as nuvens a decidir o páramo

Tatiana Faia

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