terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Sem assombro

Dois ou três escritores que admiro pela imaginação: Ovídio em as Metamorfoses. Um livro que são histórias sobre histórias sobre histórias, como se a arte de contar se pudesse multiplicar até ao infinito.
Ariosto em Orlando Furioso, pelo número alucinante de personagens, de situações, por as ter inscrito a todas na medida do verso, a ponto de o seu mecenas, Hipólito d' Este, lhe ter perguntado onde desencatara ele tanto disparate junto.
Há depois grandes escritores, dos quais se diz que podem pegar numa história bastante comum e depois a grande força que nos deixa maravilhados é o seu estilo de contar, espécie de ars dicendi. Tolstói em Anna Karénina, é um exemplo que se gosta de citar. Porém, acho que é preciso muita imaginação para atingir um estilo excelente.
E o voo de imaginação que considero ser o mais impressionante de todos: o impulso que fez com que Dostoiévsky, preso na fortaleza de Pedro e Paulo, descrevesse imóvel, confinado numa pequena cela, o galope desenfreado de um corcel que apenas a esperança sem assombro de um rapazinho pôde domar (O Pequeno Herói).

2 comentários:

  1. Esses li e achei por BONS . Acrescento que é no pequeno conto que a genialidade sobrevém e mais me admira nos MELHORES . « A terra que um homem precisa » , « O grande inquisidor » , « o bruxo preterido » , «a salvação de Wang Fô » , Tolstói , Dostoiévesky , Borges , Yourcenar , de quantas pérolas é feita o mais bonito colar ?

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  2. Concordo, embora se possa classificar o conto como um género menor, mais limitado que o romance, acho que exige maior capacidade de concentração ao escritor, torna necessário que ele faça operar num espaço menor uma série de elementos que no romance são mais fáceis de manipular. Dessa forma, é necessário ser-se um escritor genial para se ser um excelente contista. Nesse ponto, Dostoievsky surpreendeu-me, sendo um romancista genial, pensei que formas mais curtas não fossem a sua melhor forma de expressão. Mas é mentira. De resto, acho sintomático que Borges, nunca tenha tido necessidade de escrever um romance. Por outro lado, em matéria de contos, recomendo Tchekov, qualque um dos seus volumes de contos. O tipo era fenomenal.

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