Para Nikos Pratsinis
Traduziram ao meu lado numa primavera o
de Alexandria. Verso a verso e como julguei
inútil esse trabalho que trazia consigo lojas de amor e
o saber antigo. A Grécia era essa quase perfeita
ideia de forma que já ninguém queria. Aquiles
Pátroclo, o divino Platão, Cristo
e gente que chegava e partia envolta em poeira
e perfume. Damasco, Beirute, o Nilo, os jovens
e os muitos velhos; a beleza que se perdia e se
encontrava e se roubava por tascas, em cafés
por quartos de lascívia, em noites de qualquer
praça ou rua estreita; ou mesmo dentro
de uma igreja havia quem deixasse
descer, dos lábios, um beijo e aproximasse da sua
mão o tacto de um corpo.
Vejo-os mais tarde em redor dos rostos do d'
Esmirna. Pelo mesmo mês, pela mesma praia e casa. Os
.................................................................................versos
depressa ficavam parentes dos seus dedos
numa partilha, em voz baixa, de deuses, ritmos, heróis e
o mar de Creta vazava nas águas atlânticas
de Peniche.
Nas suas mãos parecia um céu de trovoada ordenando ramos
mortos em volta dos medalhões azuis: um, em Queensway;
em Sloane Avenue o outro. Em cerâmica registaram uma
passagem, um destino. Mas aquilo a que chamam morte
não é um fim.
Hefaístos, o fogo; o verso que
introduz o eco, invocada beleza do sangue
que espalha, sob a terra, longíssimas raízes.
João Miguel Fernandes Jorge, O Barco Vazio, Colecção Forma, Editorial Presença, 1994
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