O aspecto mais farisaico da mentira implícita no conceito de decadência é a pedanteria com a qual, no próprio momento em que se lamenta a mediocridade e o declínio e se registam os presságios do fim, se faz em cada geração a lista dos novos talentos e catalogam as formas novas e as tendências epocais nas artes e no pensamento. Neste recenseamento mesquinho, muitas vezes de má fé, perde-se o único e incomparável título de nobreza que o nosso tempo poderia legitimamente reivindicar a propósito do passado: o de não querer já ser uma época histórica.
Giorgio Agamben, Ideia da Prosa, João Barrento (trad.), Livros Cotovia, 1999
Giorgio Agamben, Ideia da Prosa, João Barrento (trad.), Livros Cotovia, 1999
Sem comentários:
Enviar um comentário