domingo, 20 de dezembro de 2009

Versões de Giges e Candaules
























No Livro I das Histórias Heródoto narra o episódio de Giges e Candaules. Candaules, rei da Lídia, era um homem muito apaixonado pela sua mulher, a tal ponto, que constantemente gaba a sua beleza a um dos seus soldados, um daqueles fiéis capitães de guarda, feitos para aparecerem nos livros, chamado Giges. Um dia o rei diz a Giges que este não acredita no que ele lhe diz acerca da beleza da esposa e convida-o a vê-la nua. O pobre Giges entra em pânico e recusa-se ferozmente a fazê-lo. (Entre os lídios era pecado ver a nudez fosse de quem fosse.) Contudo, perante a insistência do rei, o vassalo não tem como recusar.
Por azar, ao espiar a mulher de Candaules, Giges acaba por ser visto por ela. A mulher, em vez de denunciar aquilo de que se apercebera, ficou calada mas compreendeu imediatamente que aquele acto era um insulto cujo responsável era o rei.
No dia seguinte, manda que se traga à sua presença Giges e dá-lhe duas escolhas: ou matar o rei ou ser imediatamente morto. Um dos dois ia pagar a ofensa que lhe fora feita. Entre a própria vida e a de outrem, Giges escolhe a sua. O rei é morto, Giges sobe ao trono da Lídia, destronando o último dos Heraclidas. Porém, uma maldição passa para a sua casa: um descente de Giges sofrerá destino semelhante ao de Candaules (Creso, às mãos de Ciro).
No filme de Akira Kurosawa, Rashomon, o «pecado» em que a acção enraíza é da mesma índole. Um marido que, em qualquer dos casos, acaba por falhar à esposa, até certo ponto compactuar com que outro homem visse a sua mulher, sempre velada, e por sofrer às mãos do amante (?) uma morte que em parte radica na sua inconstância. Se Akira Kurosawa leu esta história de Heródoto não é possível saber.
Um outro filme em que surge uma alusão explícita a esta passagem é em O Paciente Inglês. Aqui.

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