sábado, 5 de dezembro de 2009

15

Quid πλατανὼν opacissimus?
Como uma árvore envolveu-te o sono em folhas verdes
na luz serena respiraste como uma árvore
na primavera clara vi o teu rosto:
pálpebras cerradas, as pestanas ao de leve roçando a água.
Na erva macia os meus dedos tocaram os teus.
Segurei por um momento o teu pulso
e senti noutro lugar a dor do teu coração.

Sob o plátano, perto da água, entre loureiros
o sono moveu-te e dispersou-te
em meu redor, perto de mim, sem que eu te pudesse tocar
totalmente -
indivisíveis como tu e o teu silêncio;
vendo a tua sombra alastrar e diminuir,
perder-se entre outras sombras, em outro mundo
esse que te deu a liberdade de partir e, contudo, te prendeu.

A vida que nos foi dada viver, vivêmo-la.
Guarda o teu lamento para aqueles que, tão pacientes, mantém a sua espera
perdidos no loureiro negro sob os plátanos maciços
e para esses, apenas esses, que falam para o interior de cisternas e poços
e se afogam num círculo de voz.

Guarda o teu lamento para o companheiro que partilhou as nossas privações o nosso suor
e se precipitou em direcção ao sol como um corvo para lá das ruínas
sem esperança de dividir connosco a recompensa.

Concede-nos, sono aparente, a serenidade.

(mais ou menos) Yorgos Seferis

Versão minha a partir de Collected Poems (1922 - 1955), Edmund Kelley e Philip Sherrard (trad., ed., e intr.), Princeton University Press, 1971.

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