terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Os Cavalos de Aquiles

Assim que viram Pátroclo morto,
tão denodado, e forte, e jovem no durar,
os cavalos de Aquiles começaram a chorar;
a sua imortal natureza se indignava
com esta obra da morte que contemplava.
Sacudiam as suas cabeças e as longas crinas moviam,
batiam na terra com as suas patas e carpiam
Pátroclo que sentiam sem alma - exterminado -
uma carne agora vil - seu espírito dissipado -
indefeso - a respiração parada -
da vida devolvido ao grande Nada.

Zeus viu as lágrimas dos imortais
cavalos e entristeceu. «No casamento de Peleu»
disse «não devia assim sem pensar ter feito eu;
antes meus cavalos vos não tivéssemos oferecidos
infelizes! Que procuráveis lá entre o caído
no brinquedo do destino que é a mísera humanidade.
Vós a que nem a morte arma cilada, nem a muita idade
precárias calamidades vos tiranizam. Nas suas provações também
vos envolvem os humanos.» As suas lágrimas porém
pela perpétua calamidade da morte
derramam os dois animais de nobre porte.

Konstandinos Kavafis, Poemas e Prosas, Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis (trad.), Relógio d'Água, 1994

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