quarta-feira, 9 de setembro de 2009

"Miguel Sousa Tavares e Ruy Belo a ver a bola" ou "As fraquezas de um poeta" ou "Por que não meto os pés na Luz quando o meu querido Porto lá joga"

A loucura, pelos vistos, era tanta que o Miguel até ia ver jogos do Benfica ao Estádio da Luz.
Com o Ruy Belo, exactamente. E ia vê-lo jogar. Era defesa central.

As idas ao Estádio da Luz eram frequentes?
Eram frequentes, eram. Um dia, o Ruy Belo, coitado, quase teve de andar à pancada porque me levou a ver um Benfica-Porto e eu comecei a gritar pelo Porto no meio dos sócios do Benfica.

Iam para a bancada dos sócios?
Ele era sócio e levava-me. Mas teve o azar de me levar a um Benfica-Porto em que o Porto marcou um golo, coisa rara nesses tempos. Eu desatei aos pulos e a multidão gritava: “Leva-me esse puto de merda para casa!” Coitado do Ruy.

Ele sabia que o Miguel era portista?
Sabia. Ele queria ver se me conseguia convencer para o Benfica mas não resultou.

Excerto de uma entrevista de Carlos Vaz Marques a Miguel Sousa Tavares na revista Ler, nº83, Setembro 2009

Palavras a reter: “Coitado do Ruy”.

9 comentários:

  1. pela primeira vez sinto uma imensa vontade de censurar um post neste blogue...não creio que a expressão a reter seja...coitado do ruy...é antes: nesta altura o miguel sousa tavares sofria de declarado mau gosto, pelo menos em termos futebolísticos. o Ruy Belo não é por acaso que é um dos maiores poetas portugueses do séc. XX, futebolisticamente o homem tinha o coração do lado certo. dixi.

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  2. Ele não morreu de ataque cardíaco?

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  3. Excelente gosto o do miguel, pelo menos futebolisticamente; em relação ao ruy ter sido um dos maiores poetas portugueses do século vinte,eu,
    que até sou ribatejano e da mesma zona do ruy, e que até já li toda a sua obra, discordo completamente; ainda assim um dos nomes da poesia portuguesa.

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  4. Eu acho que sim, que é um dos nomes mais importantes do séc. XX, pela obra, pelos projectos em que participou, em menor escala pelo que traduziu, e pela influência que exerceu na geração que se seguiu à sua e eventualmente na nossa.

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  5. É salutar que hajam diferentes opiniões, mas nunca acharei alguém menor ou maior poeta pelos projectos em que participou ou pelo que traduziu; e neste nosso país temos um claro exemplo vivo disso mesmo.

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  6. Não é uma questão de o que traduziu ou aquilo em que participou fazer de uma pessoa maior ou menor poeta, nisso estou de acordo contigo, o poeta vale apenas pelo que escreve. mas a imagem do homem de letras configura-se não só pelo que escreveu mas pelo trabalho que desenvolveu em favor da literatura, o que contribuirá para estender a sua influência e para nós compreendermos melhor a sua obra. por exemplo, se um autor traduz grande extensão da obra de outro, isso pode-nos ajudar a perceber que obras deste influenciaram a sua obra. além disso, a tradução é em parte um exercício de reescrita. Porque uma parte do estilo do tradutor passa para o autor. acho que quando falava de ruy belo como um dos nomes mais importantes da literatura portuguesa do séc. XX, para mim incluo-o também na poesia, pelo que escreveu (esta discussão será sempre subjectiva) e pelo seu trabalho em volta. Qual é o exemplo que tinhas em mente?

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  7. Ruy Belo é por muitos considerado um dos grandes nomes da poesia portuguesa, algo que não serei eu a negar. É um facto que também traduziu grandes nomes da poesia: Borges, Lorca; no entanto não o considero um dos grandes como aludiste, e isto tem que ver unicamente com gostos e géneros - e uma coisa que detesto e que muitos apelidam de musicalidade.
    Um dos claros exemplos vivos, que não se é menor ou maior poeta por se ter traduzido isto ou aquilo, é António Franco Alexandre; desconheço que tenha traduzido algo, e, tal como, por exemplo, Herberto Helder, é um dos que prefere a sombra a mostrar-se e a participar em tudo o que é do meio, como muito boa gente o faz por aí, e muitas das vezes pelas razões que sabemos.

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  8. Concordo contigo em relação ao Franco Alexandre, absolutamente. Mas tenho um fraquinho pelo Ruy Belo, nada a fazer. Acho que está intimamente relacionado com a ocasião em que pela primeira vez o li e com o facto de existir uma gravação fantástica da sua poesia, lida por Luís Miguel Cintra. Acho que o Franco Alexandre e o Herberto Helder (ele tem coisas traduzidas, penso que é da sua autoria aquela semi-tradução, poemas amerindios mudados para português, ou algo assim) são os dois maiores poetas portugueses vivos, sem descrédito para os restantes, eles são fantásticos. Mas enquanto o Herberto está dentro do cânone já, e é-lhe (devidamente) reconhecida a preponderância que merece na literatura portuguesa, isso não acontece com Franco Alexandre, e justamente por esse motivo que tu apontas, ele está fora dos círculos, não participa em qualquer meio, escreve por ciclos, fala dos seus livros em círculos mesmo muito restritos e para quem tenha curiosidade desinteressada em ouvi-lo. Mas se leres (ou se já leste) o Aracne, acho que vejo uma certa amargura nele justamente por esse facto, de não haver um reconhecimento da sua obra por essa sua pouca, digamos, sociabilidade. Mas isso é uma coisa que eu aprecio nele. Mesmo muito. Franco Alexandre é, até ver, o meu "vivo" favorito, embora me desagrade francamente a sua primeira fase, tudo o resto é extraordinário. Ele supera-se sempre. E, enquanto professor, tenho muito respeito por um tipo que num ano é capaz de ensinar poesia japonesa e no ano seguinte dar o tanakh.

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