Às vezes um realizador filma uma história e depois o seu contrário. Acho que Bergman fez uma coisa semelhante ao filmar Mónica e o Desejo (1953) e, em seguida, um filme com um título que poderia rivalizar com os dos livros de D. H. Lawrence: En Lektion i Kärlek, ou seja, Uma Lição de Amor. Onde Mónica e o Desejo é uma história de inconstância, e, consequentemente, de infelicidade, Uma Lição de Amor conta, em tom ligeiro, mas cum grano salis, uma história de infidelidade conjugal e a forma como esta é expiada e, eventualmente, perdoada. É um filme que nos faz perceber que a infidelidade pode por vezes nascer de uma constância de (desejo e) carácter.
En Lektion i Kärlek terá talvez menos qualidade e beleza do que Morangos Silvestres (para muitos o melhor filme de Bergman e para mim, de tudo o que até agora vi dele, também), não tem um argumento com a beleza de A Fonte da Virgem (mais um título que faria inveja a Lawrence), que é um dos argumentos mais bem escritos (mais belos) que me lembro de ver num filme. E conta uma história que é aparentemente bastante banal: um homem e uma mulher estão casados há alguns anos, têm (se a memória não me falha, apenas) uma filha (a Mónica de Mónica e o Desejo, Harriet Andersson) e o marido acaba por trair a esposa com uma paciente (o senhor era médico). A esposa descobre e resolve deixá-lo. O filme é contado em tom de comédia, mas Bergman faz, com este seu conto narrado em tom ligeiro, algo mesmo muito especial: filmar a felicidade do ângulo mais difícil.
Para mim o ângulo mais difícil para se filmar a felicidade é a partir de representações do quotidiano, a felicidade prolongada no tempo e sendo a cada momento testada no convívio muito próximo de duas pessoas (que é isso que é, regra geral, um casamento). Quando a confiança que sustenta esta felicidade é traída, é possível recuperá-la? Bergman vai demonstrar que sim. Que há laços entre as pessoas que estão para lá do efémero e das circunstâncias. E é um filme que nos faz bem ver, com dois dos meus actores (de Bergman) favoritos (Eva Dahlbeck e Gunnar Björnstrand, que Bergman já tinha juntado em 1952 para filmar Segredos de Mulheres e que tornaria a juntar em 1955, em Sorrisos de uma Noite de Verão).
Embora o realizador nos faça saber no princípio do filme que estamos perante uma comédia, sentimos, ao longo de noventa e dois minutos, o quão frágil é a linha que separa o cómico do trágico e Bergman explora muito bem os pontos de tensão desse equilíbrio. E talvez seja isso o que torna este filme tão bom. Se alguma vez virem o filme, a cena genial, para mim, é a da «mulher mais bonita da Dinamarca».
Para mim o ângulo mais difícil para se filmar a felicidade é a partir de representações do quotidiano, a felicidade prolongada no tempo e sendo a cada momento testada no convívio muito próximo de duas pessoas (que é isso que é, regra geral, um casamento). Quando a confiança que sustenta esta felicidade é traída, é possível recuperá-la? Bergman vai demonstrar que sim. Que há laços entre as pessoas que estão para lá do efémero e das circunstâncias. E é um filme que nos faz bem ver, com dois dos meus actores (de Bergman) favoritos (Eva Dahlbeck e Gunnar Björnstrand, que Bergman já tinha juntado em 1952 para filmar Segredos de Mulheres e que tornaria a juntar em 1955, em Sorrisos de uma Noite de Verão).
Embora o realizador nos faça saber no princípio do filme que estamos perante uma comédia, sentimos, ao longo de noventa e dois minutos, o quão frágil é a linha que separa o cómico do trágico e Bergman explora muito bem os pontos de tensão desse equilíbrio. E talvez seja isso o que torna este filme tão bom. Se alguma vez virem o filme, a cena genial, para mim, é a da «mulher mais bonita da Dinamarca».
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