Atalhei a noite,
Tentei chegar ao trilho mais certo dos teus passos
Caminhando no cerejal.
A velha casa era agora um borrão no crepúsculo,
Lembrava-me a fúria das crianças em louca correria.
Percorri, às apalpadelas, o quarto escuro, produzido pela idade
E foi aí que pedi a Purviance um copo de água.
Ela adiantara um torrão de açucar para que a memória
Não fosse um frango fugido do galinheiro.
Alimentara-me de tudo isso, e nem o teu corpo encontrara
Para que a aventura fosse mais doce,
Mais secreta de certezas.
Sentira-me envergonhado por ser surpreendido
Quando te procurara
Tacteando uma imagem de ti.
Olhei pela janela.
Vi os ciganos em viagem em direcção ao sul.
Não sei se ias.
Não sei.
Eu fui.
Rui Pedro Gonçalves, in Telhados de Vidro nº12, Averno, Lisboa, Maio de 2009
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