E uma vez que a raça de Combray, a raça de onde saíram seres absolutamente intactos como a minha avó e a minha mãe, parece quase extinta, e como pouco mais tenho a escolher que entre brutamontes honestos, insensíveis e leais, e em quem o mero som da voz bem depressa mostra que em nada se preocupam com a nossa vida, e uma outra espécie de homens que, enquanto estão ao pé de nós, nos compreendem, nos amam, se enternecem até ao pranto, e se desforram algumas horas mais tarde fazendo uma cruel zombaria à nossa custa, mas que voltam para nós sempre tão compreensivos , tão sedutores, tão momentaneamente assimilados a nós - acho que é desta última espécie de homens que prefiro, se não o valor moral, pelo menos o convívio.
Marcel Proust, Em Busca do Tempo Perdido: À Sombra das Raparigas em Flor, vol. II, Pedro Tamen (trad.), Relógio d'Água, 2003 (2ª ed.).
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