No mês de Março de 2009 a Presença editou um livro de ensaios que, depois de lido, me deu vontade de ir a correr à livraria mais próxima (a decente, entenda-se: Barata, Roma) e pedir um exemplar de cada uma das obras de Pamuk que estivessem a vender. Um amigo meu já me tinha falado muito bem de algumas obras dele, mas havia outros que quando eu lhes perguntava (assim como quem avalia a coisa): «E Pamuk, como é?» E eles: «Muito overrated. Aposto que ganhou o Nobel por fazer a ponte entre a cultura ocidental e islâmica, isto é, mais por motivos políticos do que literários.» Depois de ler Outras Cores, tive de deixar de dar ouvidos a estes últimos, pelo menos em matéria literária. Outras Cores: Ensaios sobre a Vida, A Arte, Os Livros e as Cidades é um livro fantástico onde por vezes parece poder caber a vida inteira.
É um prazer poder ler Pamuk a discorrer sobre Os Cadernos do Subterrâneo de Dostoiévsky ou a falar de forma como ele e um seu vizinho, após o terramoto que arrasou Istambul em 1999 passaram alguns dias a calcular o grau de probabilidade que existia de um minarete que se erguia em frente à sua janela cair em cima do seu prédio. Ou as suas idas a jogos de futebol, ou o processo de composição de O Meu Nome é Vermelho. Ou quando nos fala dos barbeiros em Istambul. É daqueles livros que se vai lendo com uma curiosidade que se alimenta a si própria a cada página, e é por isso incessante.
É verdade que o autor passa em revista alguns dos aspectos mais polémicos da sua vida enquanto escritor, como por exemplo a polémica em torno do processo que lhe foi movido na Turquia por se ter referido (a um jornal suíço, creio) ao massacre dos arménios como um acto de genocídio. É verdade que o colorido étnico e do «multiculturalismo» (o que quer que isso seja) está lá todo. Mas não me parece que tenha sido por isso que Pamuk ganhou o Nobel. Este livro demonstra que ele o ganhou talvez, e acima de tudo, porque percebe muito de literatura, porque escreve muito bem, e incorpora na sua escrita aspectos que o integram na grande tradição da literatura ocidental, bem como aspectos especificamente turcos, que lhe advém, claro está, de ser turco, mas naquilo em que ele é muito bom é a observar pessoas, objectos, livros, independentemente da sua origem. Porque, acho eu, são muito poucas as coisas que na verdade separam os homens no tempo e nas circunstâncias: os desígnios, os medos, os desejos, os motivos das pessoas acabam sempre por ser bastante semelhantes, o tempo e o lugar podem impor algumas variações, mas não são determinantes.
Sempre achei altamente improvável que semelhante coisas existisse, mas este é um livro de ensaios emocionante. Se puderem, leiam o Outras Cores. Um dos melhores livros que eu já li.
É um prazer poder ler Pamuk a discorrer sobre Os Cadernos do Subterrâneo de Dostoiévsky ou a falar de forma como ele e um seu vizinho, após o terramoto que arrasou Istambul em 1999 passaram alguns dias a calcular o grau de probabilidade que existia de um minarete que se erguia em frente à sua janela cair em cima do seu prédio. Ou as suas idas a jogos de futebol, ou o processo de composição de O Meu Nome é Vermelho. Ou quando nos fala dos barbeiros em Istambul. É daqueles livros que se vai lendo com uma curiosidade que se alimenta a si própria a cada página, e é por isso incessante.
É verdade que o autor passa em revista alguns dos aspectos mais polémicos da sua vida enquanto escritor, como por exemplo a polémica em torno do processo que lhe foi movido na Turquia por se ter referido (a um jornal suíço, creio) ao massacre dos arménios como um acto de genocídio. É verdade que o colorido étnico e do «multiculturalismo» (o que quer que isso seja) está lá todo. Mas não me parece que tenha sido por isso que Pamuk ganhou o Nobel. Este livro demonstra que ele o ganhou talvez, e acima de tudo, porque percebe muito de literatura, porque escreve muito bem, e incorpora na sua escrita aspectos que o integram na grande tradição da literatura ocidental, bem como aspectos especificamente turcos, que lhe advém, claro está, de ser turco, mas naquilo em que ele é muito bom é a observar pessoas, objectos, livros, independentemente da sua origem. Porque, acho eu, são muito poucas as coisas que na verdade separam os homens no tempo e nas circunstâncias: os desígnios, os medos, os desejos, os motivos das pessoas acabam sempre por ser bastante semelhantes, o tempo e o lugar podem impor algumas variações, mas não são determinantes.
Sempre achei altamente improvável que semelhante coisas existisse, mas este é um livro de ensaios emocionante. Se puderem, leiam o Outras Cores. Um dos melhores livros que eu já li.
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