Do meu lugar, no café, do outro lado do vidro, vejo Coluche, que ali está enregelado, laboriosamente farfalhudo. Acho-o imbecil em segundo grau: imbecil por fazer de imbecil. O meu olhar é implacável, como o de um morto. Não me rio de nenhuma representação, por mais conseguida que seja, não aceito nenhuma piscadela; estou afastado de todo o «tráfico associativo»: no seu anúncio, Coluche não consegue fazer-me associar: a minha consciência está dividida em duas pelo vidro do café.
Barthes, Fragmentos de um Discurso Amoroso, Edições 70, 2006.
(Este é daqueles livros escritos para fazer história na vida de qualquer pessoa que o leia. Ou assim me parece. Este livro, lido em Novembro de 2006, tinha lá dentro um marcador que penso ter vindo de Praga: uma representação de um painel de Mucha, Outono. Fartei-me de procurar o marcador.)
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