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sábado, 26 de setembro de 2009

8.

Um koan budista diz: « o mestre segura a cabeça do discípulo debaixo de água, muito, muito tempo; pouco a pouco, as bolhas rareiam; no último instante, o mestre retira o discípulo, reanima-o: quando tiveres desejado a verdade como desejaste o ar, então saberás o que ela é». A ausência do outro segura-me a cabeça debaixo de água; pouco a pouco, sufoco, rareia-me o ar: é por esta asfixia que reconstituo-o a minha «verdade» e que preparo o Intratável do amor.

Barthes, Fragmentos de Um Discurso Amoroso, Edições 70, 2006.

Do Meu Lugar, No Café
















Do meu lugar, no café, do outro lado do vidro, vejo Coluche, que ali está enregelado, laboriosamente farfalhudo. Acho-o imbecil em segundo grau: imbecil por fazer de imbecil. O meu olhar é implacável, como o de um morto. Não me rio de nenhuma representação, por mais conseguida que seja, não aceito nenhuma piscadela; estou afastado de todo o «tráfico associativo»: no seu anúncio, Coluche não consegue fazer-me associar: a minha consciência está dividida em duas pelo vidro do café.

Barthes, Fragmentos de um Discurso Amoroso, Edições 70, 2006.

(Este é daqueles livros escritos para fazer história na vida de qualquer pessoa que o leia. Ou assim me parece. Este livro, lido em Novembro de 2006, tinha lá dentro um marcador que penso ter vindo de Praga: uma representação de um painel de Mucha, Outono. Fartei-me de procurar o marcador.)