preferiste um meio adormecer
contra o chão em vagões de comboios
a cinza de alguns passos imóveis
uma vigília constante de movimentos
que te cercam sem incêndio
no lugar onde cresce a flor da distância
vais extinguindo cada frase
o outro rosto deste diálogo hesita e perde-se
no cinzento que embaraça o corpo na penumbra
mas a memória por vezes trai-te
o outro vibra no teu caminhar pelo chão
está nos teus pés descalços guarda-se nos teus ossos
nalguns gestos das mãos em certas expressões do rosto
formas onde a maré invariavelmente não regressa
uma luz fria onde anoiteces e casas viradas para o mar
e depois estremeces gritas muito falas muito e muito alto
eu preferi antes não arremessar palavra nenhuma
até se ter extinguido o incêndio
para que do outro lado do fogo
não me surpreendesse o meu próprio rosto
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