sábado, 26 de setembro de 2009

Um Poema de Pavese: A casa

O homem só escuta uma voz calma,
com um olhar semi-cerrado, como se um suspiro
lhe soprasse no rosto, um suspiro amigo
que ascende, incrível, de um tempo que se perdeu.

O homem só escuta a voz antiga
que os seus pais, no seu tempo, terão escutado, clara
e recolhida, uma voz que, como o verde
dos charcos e das colinas, escurece ao anoitecer.

O homem só conhece uma voz de penumbra,
que afaga, que sobe nos tons calmos
de uma nascente secreta: bebe-a absorto,
olhos fechados, e não parece que a tenha perto.

É a voz que outrora demorou o pai
de seu pai e cada um dos mortos do seu sangue.
Uma voz de mulher que soa secreta
por sobre o limiar da casa, na escuridão que cai.

Cesare Pavese, Disaffections: Complete Poems 1930 - 1950, Geoffrey Brock (trad.), Copper Canyon Press, 2002.

(Versão minha, a partir do italiano e da tradução inglesa.)

Sem comentários:

Enviar um comentário