Abre a janela para ouvires a sinfonia concertada
dos cães. Quando quisemos alterar os telhados
e remediar com isso um pouco das nossas vidas
procurámos a coincidência das nossas inaptidões.
Lances de paisagem protegida para, na sombra de um dia
mais tarde, fazerem nela guaritas para vigiar caminhos
de ferro sobre os mares. Tu és um índio novo, encostando
o ouvido à linha da água para ver um avião.
Vários andamentos dos cães, evitando o silêncio
e ganhando a seus donos confiança na defesa, a sua voz
(sim, é uma voz) atordoa os nervos estremecidos,
é como se todos os dias houvesse trovoada.
Quando afiam as unhas na terra ou na calçada, ferozes
para a definição de um espaço vital, sinto-me um gato
arqueado e se levo pela mão uma criança certamente
lhe transmito toda a mania do meu medo evidente.
Deitado nas guardas, com o cheiro a óleos de rodas,
desejo a insónia que prenda aos olhos das estrelas.
Helder Moura Pereira, Lágrima, Assírio e Alvim, 2002.
Sem comentários:
Enviar um comentário