domingo, 12 de julho de 2009
António Franco Alexandre, As Moradas, II, 18
e no detalhe
habita um deus: partilho
essa convicção simples, dura como um seixo.
de todas as palavras, só uma irá bater
à porta do desconhecido,
entrar no coração, dar as boas-vindas.
e todas poderão ruir, e ela ficará latejando
no sangue das primeiras núpcias.
eu calculo a passagem do estorninho e da poupa, vejo
a exacta emoção da inexacta curva,
o rastro, facilmente luminoso.
a terra cresce para nós, tão rápida nos ramos,
só o vento a detém, um dia
seremos úteis e preciosos como a erva e a cabra,
e ricos de virtudes saberemos
o que fazer para morrer, não morrer, entretanto
ela lateja na núpcia do sangue, inteiramente ignorante
do grande sentido de tudo isto,
egoísta como a primeira mão
que nos tocou,
um destino leviano, sensível, pacato,
depois o sulco deixado reparte as colinas
e o pequeno piano repete
a criação do mundo.
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