quarta-feira, 29 de julho de 2009

Portugal Restaurado . 04



«C'est vne gloire qui a fini auec ces triomphes, & qui n'a point esté communiquée à cette nation qui a succedé, non pas à sa vertu, mais seulement à ce vaste & ambitieux dessein qu'elle auoit conceu, de reduire tous les Royaumes en Prouinces. Depuis le temps qu'elle a vni le Portugal à la Castille, & que de toutes les Couronnes de ses voisins, elle n'en a formé qu'vne, on n'a point veu qu'elle ait cessé de faire composer des liures, & d'employer ses meilleures plumes, pour obtenir par la douceur de la persuasion, le consentement que les peuples refusoient à la violence. Mais quelque effort qu'elle ait fait, quelque couleur qu'elle ait peu donner à ses desseins, les Portugais sont encore aujourd'huy à chercher les moyens pour rentrer en la possession de la liberté, qui leur est si chere, qu'on ne leur sçauroit laisser la vie, sans leur en laisser le desir.»


Observations sur un livre intitulé Philippes le prudent, fils de Charles de Quint, verifié Roy legitime de Portugal, des Algarues, des Indes & du Bresil composé en latin par D. Iean Caramuel Lobkovvitz, religieux de l'ordre de Cisteaux, Docteur de Louvain, & Abbé de Melrose.
Antuérpia-Paris, 1640



Este excerto retirei-o de um livro publicado em Antuérpia e Paris, em 1640, antes da Restauração, como se percebe com clareza. Sem indicação de autoria, apresenta-se como comentário à publicação em 1639 do "Philippus Prudens" de Caramuel Lobkowitz, o grande teórico das teses espanholistas.


O facto de Caramuel ter publicado a sua extensa e interessante obra, justificando a legitimidade dos Filipes em 1639, 59 anos depois da União Dinástica, e apenas 1 ano antes da Restauração, só pode parecer estranho a quem olha para os acontecimentos a uma distância de vários séculos. Na verdade, era perceptível desde há algum tempo a iminência de uma revolta contra Madrid, de que as alterações de Évora em 1637 tinham sido apenas um aviso.


O interesse francês no assunto, em 1640 e já antes disso, bem como aquele profético "les Portugais sont encore aujourd'huy à chercher les moyens pour rentrer en la possession de la liberté", também só poderão surpreender quem tiver esquecido o enorme interesse que a França, em guerra com a Espanha, tinha em desestabilizar o inimigo, fomentando as revoltas de Portugal e da Catalunha.


Estando escrito em francês e numa ortografia estranha, talvez não seja má ideia fazer uma tradução, para quem tem a desdita de não dominar a língua de Mollière.


«É uma glória que terminou com os seus triunfos, e não foi de modo algum passada a essa nação que lhe sucedeu não na virtude, mas apenas nesse vasto e ambicioso desígnio que ela tinha concebido, o de reduzir todos os reinos a províncias. Depois de ter unido Portugal a Castela, e de de todos os reinos seus vizinhos não ter formado senão uma, não vimos absolutamente que tenha deixado de mandar escrever livros, e de empregas as suas melhores penas, de modo a obter, por meio da doçura da persuasão, o consentimento de que os povos abdicassem da violência. Mas qualquer que tenha sido o esforço feito, qualquer que tenha sido a cor dada aos seus desígnios, os Portugueses estão ainda hoje a procurar os meios para entrar na posse da liberdade que lhes é tão cara, que não se lhes poderia deixar a vida, sem dela lhes deixar o desejo.»
Imagem: Cardeal Richelieu

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