segunda-feira, 13 de julho de 2009

Giacomo Leopardi (já escrevi sobre isto)

Um poeta torna-se extraordinário (e isto é sempre subjectivo, é extraordinário para mim, mas pode muito bem não o ser para ti) quando, ao ser lido, rasga um limite do teu horizonte, nomeia coisas que estavam guardadas dentro do silêncio de ti e que tu nunca terias escutado se ele não lhes tivesse emprestado a sua voz.
Para mim, o paradigma disto é um poema de Leopardi: "L'Infinito". Porque "L'Infinito" é um poema escrito por um homem que viveu confinado das mais diversas formas (presa da sua debilidade física, da infinita influência do pai, entre outras coisas), e contudo, talvez por isso mesmo, foi-lhe dado entrever ou sonhar o infinito (repare-se em Io nel pensier mi fingo, v.7, que é o nomear de uma forma interior de infinito, que se contrapõe ao infinito espacial).

XII

L' Infinito


Sempre caro mi fu quest' ermo colle,
E questa siepe, che da tanta parte
Dell' ultimo orizzonte il guardo esclude.
Ma sedendo e mirando, interminati
Spazi di là da quella, e sovrumani
Silenzi, e profondissima quiete
Io nel pensier mi fingo; ove per poco
Il cor non si spaura. E come il vento
Odo stormir tra queste piante, io quello
Infinito silenzio a questa voce
Vo comparando: e mi sovvien l'eterno,
E le morte stagioni, e la presente
E viva, e il suon di lei. Così tra questa
Immensità s'annega il pensier mio:
E il naufragar m'è doce in questo mare.

Leopardi, Cantos, Albano Martins (trad.), Edições Asa, 2005.

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