Herbert Marcuse diz, em Counterrevolution and Revolt, o que é a obra de arte: the authentic oeuvre has indeed a meaning which claims general validity, objectivity. Ou seja, pode haver arte feita por burgueses com características burguesas (dá o exemplo de Dickens), mas a obra, sendo dotada de significado universal, não é burguesa mas apenas arte. Marcuse diz também que, se a cultura burguesa é feita para elites, isso já acontece desde a Antiguidade. O que o leva a argumentar que a revolução cultural, adaptando Marx aos tempos modernos, deve ser feita para além da burguesia. Contudo, o mesmo pode ser dito para as classes trabalhadoras. Já não existindo proletariado, mas uma grande maioria de trabalhadores explorados (incluindo a classe média) dentro de uma sociedade de consumo, o conceito de classe trabalhadora deverá ser alterado, alargado. Os romances para negros, por exemplo, são um bom exemplo, deste necessário alargamento.
Conjugando a arte com a revolução, Marcuse defende o esforço para encontrar formas de comunicação artísticas que possam quebrar o domínio opressivo da linguagem estabelecida e das imagens que oprimem o corpo humano. A esse esforço dá o nome de comunicação dos não-conformados. A linguagem dos oprimidos. E como se processará a revolução? Através do sonho. O sonho precisa de se tornar força política. Por virtude de uma forma estética, a obra cria o seu próprio universo de seriedade, que não é o da realidade existente, mas a sua negação. Em Brecht, afirma Marcuse, a revolução está mais presente na lírica do que nas peças políticas. Assim, a beleza artística funciona, não só como negação da realidade, mas como elemento de criação de um outro mundo que, embora combatendo a racionalidade, a Razão do Establishment, dará a mão à causa dos oprimidos.
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