terça-feira, 28 de julho de 2009

O que era mortal em Händel
















Stefan Zweig dedica um capítulo do seu livro Grandes Momentos da História da Humanidade: Catorze Miniaturas, muito recentemente publicado pela Esfera dos Livros (Julho de 2009), à história da composição de Messiah por Händel. É um relato impressionante sobre um homem atolado em dívidas, que havia perdido completamente a esperança na vida, e que nestas condições irá compôr a maior das suas obras.
O capítulo termina assim:

A 13 de Abril, as forças abandonavam Händel. Deixou de ver, deixou de ouvir, o corpo maciço imóvel sobre as almofadas, um arcaboiço vazio e pesado. Mas tal como na concha vazia, o rugido do mar, assim, no interior, o murmúrio de uma música inaudível, mais bizarra e mais grandiosa do que a ouvida por si. Lentamente, a alma ia-se separando do corpo extenuado, impelido por aquela formação para as alturas - livre de qualquer gravidade. Maré atrás de maré, sonoridade infinita em direcção à esfera eterna. E no dia seguinte, ainda os sinos da Páscoa não haviam acordado, morria finalmente aquilo que existia de mortal em Georg Friedrich Händel.

Stefan Zweig, Grandes Momentos da História da Humanidade: Catorze Miniaturas, Fernando Ribeiro (trad.), Esfera dos Livros, 2009.


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