domingo, 6 de setembro de 2009

Limites da Nossa Virtude

Uma espécie de severidade de gosto que possuía, uma vontade de nunca escrever senão coisas de que pudesse dizer: «É suave», e que o fizera tantos anos passar por um artista estéril, precioso, cinzelador de nadas, era pelo contrário o segredo da sua força, porque o hábito faz tão bem o estilo do escritor como o carácter do homem e o autor que várias vezes se limitou a atingir na expressão do seu pensamento uma certa ornamentação estabelece desse modo para sempre as fronteiras do seu talento, tal como, cedendo muitas vezes ao prazer, à preguiça, ao medo de sofrer, nós próprios desenhamos sobre um carácter em que o retoque acaba por já não ser possível a imagem dos nossos vícios e os limites da nossa virtude.

Marcel Proust, Em Busca do Tempo Perdido: À Sombra das Raparigas em Flor, vol. II, Pedro Tamen (trad.), Relógio d'Água, 2003 (2ª ed.).

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