quinta-feira, 10 de setembro de 2009

«The Visit» de Bernhard Wicki, 1964 (ou de como há gente neste blog que anda a ver o mesmo filme mas a minha fotografia é melhor)















A vida encarrega-se de nos ensinar que há coisas que, uma vez perdidas, e dependendo da forma como ficam perdidas, se tornam irrecuperáveis. Não há nada - nada - que nos possa restituir o que fica para trás, nenhum processo pelo qual o possamos recuperar. Para fechar a ferida, dar lugar à cicatriz, torna-se necessária a expiação. Torna-se necessária a vingança.
Um assunto entre um homem e uma mulher (digamos: uma traição, um filho morto) pode ficar pendente durante vinte anos. A mulher não se esquece, deixa o amante que urdiu a sua desgraça, abandona a cidade onde cresceu e onde agora todos a olham de lado, e vai-se embora. O amante segue com a sua vida. Tem um filho. Abre uma loja. Julga-se feliz com a mulher com quem casou. Tem aspirações à política. Um dia a outra regressa.
Depois, vendo o filme, observamos como é imitada na ficção a tristeza que verdadeiramente habita o que é irreversível . Constatamos algo muito cruel: esse lugar do irrecuperável continua a ser preenchido pelas esperanças, pelos desejos de homens (neste caso, interpretado por Anthony Quinn, Serge Miller) e mulheres (Karla Zachanassian, Ingrid Bergman) que sabem que não há como voltar atrás, como regressar ao que se perdeu.
Talvez a essência do trágico, possivelmente uma expressão que serve para designar o ponto em que ferida mais dói, seja isso: o que não pode ser recuperado, o inevitavelmente perdido. Os lugares da memória onde fica ancorado o nosso desejo mas onde o nosso regresso não é possível.
Ésquilo no séc. V resolveu escrever sobre o assunto. A peça chamava-se Agamémnon. Bernhard Wicki realizou em 1964 um filme que é mais ou menos a mesma coisa: The Visit.

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