Ninguém acompanha, quando cai a tarde,
a sua solidão.
Mão alguma empresta fugitivo calor
a quem dele tanto precisa
e que lento caminha, o olhar perdido,
para o lugar onde a luz de agosto
ainda o protege.
Das ruas estreitas
chega um cheiro, elementar e penetrante,
de alimentos e corpos,
noutro tempo apreciados.
Leve, o seu passo
perde-se entre o inquieto murmúrio
de músicas e vozes.
Esta é a cidade que tanto amou,
cujas pedras e árvores,
minaretes e praças,
debaixo do pesado sol do meio-dia
ou à claridade trémula das estrelas
conheceu tal como hoje os seus sonhos.
Continua a avançar,
desconhecido,
ignorado por aqueles
que um dia os seus lábios lhe entregaram,
a sua tristeza, o seu desejo fizeram seus.
O vermelho resplendor, por um momento,
sobre a espuma se detém.
Já cinzento depois,
empalidece no cansaço das rochas,
resvala pelas janelas abertas ao crepúsculo.
Um ligeiro tremor,
a transparente sombra de uma lágrima,
agora que por fim se deteve,
fazem mais vencida,
mais frágil a sua figura.
Não importa
ou talvez importe demasiado.
Konstandinos Kavafis
vê chegar a noite,
a escuridão, diante do mar.
Juan Luis Panero, Poemas, Relógio d'Água, Lisboa, 2003 (trad. e prefácio de Joaquim Manuel Magalhães).
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