quinta-feira, 15 de abril de 2010

Elsinore

No palácio dos Atridas como em Elsinore
Tudo era cavernoso - as paredes
Eram grossas o espaço excessivo e sonoro
Roucas as vozes da maldição antiga

Porém em Micenas o sangue era exposto
E corria vermelho como num grande talho
Sujando apenas as mãos dos assassinos
E a água da banheira -
Lá fora o rio a luz
Continuavam limpos e transparentes
O crime era um corpo estranho circunscrito
Não pertencia à natureza das coisas

Em Elsinore ao contrário o mal era um veneno
Subtil
Invadia o ar e a luz - penetrava
Os ouvidos as narinas o próprio pensamento -
O amor era impossível e ninguém podia
Libertar-se:
O inferno vomitava sua pestilência invadia
As veias e os rios:
No entanto o mal não se via: era apenas
Um leve sabor a podre que fazia parte
Da natureza das coisas

Sophia
, Ilhas, Caminho, 2004

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