segunda-feira, 26 de abril de 2010

poderes*

Podemos ficar sentados a noite inteira
à espera de um sinal que nunca chega,
podemos num desespero sem nome perder
o gosto de tudo, enquanto o eu permanece
brilhante, estupidamente brilhante,
a sussurar-nos ao ouvido a desgraça;
podemos numa lufa-lufa, ir de filme
em filme, de livro em livro como quem
sem terra procura uma casa, um lugar
a que possa chamar seu, onde tenha os seus
pertences e tempo para rir e tempo para
se aborrecer. Podemos ter pena de nós próprios,
podemos viver.

*Além dos sentidos comuns, poderes usa-se nos Açores como sinónimo de muito.

Carlos Bessa, Em Partes Iguais, Assírio & Alvim, 2004

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