quarta-feira, 21 de abril de 2010

Prenúncio

Eis que retorno à terra de ninguém,
à minha triste pátria angustiada,
para com ela celebrar alguém
num novo ano pleno de jornada
e cantarei a chuva anunciada
e o fogo fruste e o que lembrado
alumiar ensimesmadas faces
e outras de tenra profecia.
O mito grava, a palavra ofende.
A noite desce, a manhã ascende.
Um novo ano cresce no meu peito,
incerto, adrede, como folha ao vento
ou o vulto-susto de uma adaga,
ó sinistra ave,
ó flor colhida, nomeada,
ó Cristo salvador, meu amor íntimo!

Ruy Cinatti, 56 Poemas, Relógio d'Água, 1992

Sem comentários:

Enviar um comentário