domingo, 25 de outubro de 2009

IV

Adicionei os meus dias e não te encontrei
nunca, em sítio nenhum, para me tomares a mão
no clamor dos abismos e na minha barafunda de estrelas!
Tomaram uns o saber e outros o poder
a escuridão, rasgando as duras penas
e pequenas máscaras, de alegria e tristeza,
ajustando à face arruinada.
Eu é que não, não ajustei máscaras,
deitei para trás de mim alegria e tristeza
pródigo deitei para trás de mim
o Poder e o Saber.
Adicionei os meus dias e fiquei sozinho.
Disseram uns: porquê? Este também há-de viver
na casa com vasos e a branca noiva.
Cavalos de pêlo fulvo e negro acenderam-me
a obstinação por outras mais brancas Helenas!
Almejei outra mais secreta bravura
e aí onde me impediram, invisível, fui a galope
restituir as chuvas aos campos
e recuperar o sangue dos meus mortos insepultos!
Disseram outros: porquê? Este também há-de conhecer,
até ele, a vida nos olhos do outro.
Não vi olhos de outrem, não encontrei nada
senão lágrimas no vazio que me abraçava
senão borrascas na serenidade que suportava.
Adicionei os meus dias e não te encontrei
e enverguei armas e saí sozinho
para o clamor dos abismos e a minha barafunda de estrelas!

Odysséas Elytis, Louvada Seja (Áxion Estí), Manuel Resende (trad.), Assírio & Alvim, 2004.

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