sexta-feira, 30 de outubro de 2009

The fault, dear Brutus, is not in our stars,/ But in ourselves that we are underlings

Cresci numa terra onde não havia cinema, aqui há dias, tendo falado com um amigo que ainda vive nessa região, ele contou-me que continua a não existir cinema. Os cinemas mais próximos ficam quarenta quilómetros para norte ou trinta quilómetros para este. Na minha infância e adolescência não fui muito ao cinema.
No ano em que vim estudar para a cidade, havia uma biblioteca que funcionava por trás da residência onde eu vivia. A biblioteca era a Biblioteca Museu República e Resistência. Ocasionalmente descobri que eles faziam ciclos de cinema e não cobravam bilhete. Era uma boa coisa para fazer durante as tardes, quando não estava a ter aulas, e era só sair de casa e atravessar a rua.
O ciclo de cinema num desses meses foi dedicado a filmes de Marlon Brando. A sala era muito desconfortável, com umas cadeiras de plástico em que um tipo não conseguia ficar confortável em posição nenhuma e a audiência eram sempre os quatro ou cinco velhotes do costume e eu. Chegou a uma fase em que já nos conhecíamos todos e nos cumprimentávamos cá fora. Eles às vezes queixavam-se das suas mazelas e eu ouvia-os distraidamente enquanto esperava pelo próximo filme.
Foi por esta altura que comecei a gostar mesmo muito de cinema.
O cinema passou a ser uma coisa que me deixa siderada depois de ver Marlon Brando na adaptação de Júlio César que Mankiewicz fez em 1953, com Brando no papel de António.E contudo, James Mason, que faz de Bruto, é a personagem que mais me impressionou. Devíamos vê-lo como um filho de puta mas só conseguimos sentir pena e sofrer por um homem que se vê dividido entre o homem que mais ama e aquilo que mais respeita.

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