Para Véronique Schiltz
Tua haste de madeira desapareceu e desapareceu o corpo
em que não acertaste no ano zero.
Enferrujaste, mas mesmo assim até mim cruzaste,
discípula de Zenão, os ares.
Tiquetacam os relógios. Contudo, e isto é pedante,
como um líquido fechado num recipiente,
estão imóveis. Ao passo que tu és movente,
sendo aos seus segundos indiferente.
Sabias quanto de ti se separaria
na corda e a ela talvez regressaria
quando do arco arrancaste e voaste
para o outro lado do Eufrates?
Mesmo assim, agora que descansas na quentura da mão,
nesta tarde fria, neste quarto estranho,
e pareces, no teu bronze esverdeado,
uma folha de louro que sobreviveu ao guisado,
tu moves-te veloz. No deserto ninguém consegue
acompanhar-te, e por forças das coisas, no presente.
Pois todo o calor é efémero. Com mais razão,
o da palma da mão.
em que não acertaste no ano zero.
Enferrujaste, mas mesmo assim até mim cruzaste,
discípula de Zenão, os ares.
Tiquetacam os relógios. Contudo, e isto é pedante,
como um líquido fechado num recipiente,
estão imóveis. Ao passo que tu és movente,
sendo aos seus segundos indiferente.
Sabias quanto de ti se separaria
na corda e a ela talvez regressaria
quando do arco arrancaste e voaste
para o outro lado do Eufrates?
Mesmo assim, agora que descansas na quentura da mão,
nesta tarde fria, neste quarto estranho,
e pareces, no teu bronze esverdeado,
uma folha de louro que sobreviveu ao guisado,
tu moves-te veloz. No deserto ninguém consegue
acompanhar-te, e por forças das coisas, no presente.
Pois todo o calor é efémero. Com mais razão,
o da palma da mão.
Fevereiro de 1993
Iosif Brodskii, Paisagem com Inundação, Carlos Leite (trad.), Livros Cotovia, 2001.
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