segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Para aprender esta Ária antes de Morrer

Acho que com o tempo, toda a gente acaba por colocar na sua lista de leitura um livro que sabe que vai demorar muito tempo a ler, mas que ainda assim sabe que tem de ler. O livro que eu ando há muito tempo a ler é editado por um grego (?), Nikos Stangos, e chama-se Concepts of Modern Art: From Fauvism to Post-Modernism.
Este livro, originalmente publicado em 1981 mas com uma reimpressão em 2006 (realizada pela Thames and Hudson), reúne uma série de ensaios acerca dos diversos movimentos e escolas de arte do séc. XX. Este é o meu livro-que-demora-muito-tempo-a-ler porque está fora do meu esquema regular de leitura, porque é um calhamaço, mas não excessivamente grande, e porque é um livro que não pertence às áreas por onde normalmente se movimentam as minhas leituras e curiosidade. Resolvi lê-lo porque me considero francamente ignorante na matéria sobre a qual ele versa e porque é um assunto sobre o qual tenho imensa curiosidade.
Portanto, este livro inclui-se na matéria do livro «supostamente utilitário», o que deve significar que o exercício crítico e descritivo que estes especialistas fazem sobre os «seus» assuntos, e cumpre a função de elucidar quem entra às cegas por um mundo desconhecido, com o qual pretende conviver, que é o meu caso.
Ando a lê-lo há talvez três meses, muito devagar, e sempre que tenho um pouco de tempo entre outras leituras, profissionais e/ou, digamos, sentimentais, pego nele. Acho que aqui se encontra o mesmo mecanismo daquela anedota sobre Sócrates e a ária de música.
Conta-se que Sócrates, antes de morrer, pôs-se a estudar uma ária (creio que) na flauta (acho que é Platão que conta isto na Apologia de Sócrates), e os amigos, escandalizados pois tratava-se dos seus últimos momentos de vida, perguntaram-lhe porque perdia ele tempo com aquilo. Ele respondeu: para aprender esta ária antes de morrer.
Uma curiosidade que pode parecer não servir para nada, mas serve a vontade de não morrer ignorante, de compreender, de aprender constantemente, de passar uma porção de tempo. Creio que isso é o mais atraente no mundo que os livros guardam.

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