domingo, 1 de maio de 2011

“Naquela aragem fria, não há lugar para o incenso.”

“Devemos, realça Simone Weil, sofrer uma “morte mortal”, uma extinção do eu que provoque uma aceitação total de tudo, independente do ego e da sua volição. O eu individual só pode ser redimido se o oferecermos a Deus para que seja aniquilado. Essa oferta, por sua vez, permitirá a recuperação do criado dentro da unidade perfeita do Criador. A conversão em ser de outras criaturas além de deus determina uma falha fatal, uma abdicação divina e uma autodispersão. Todo o acto de egotismo – e, por definição, não pode haver nenhuma acção humana que não esteja manchada, em maior ou menor grau, de vontade própria – agrava o afastamento de Deus de Si mesmo. A abnegação, o “abraço” autista que Weil praticava existencialmente, são passos curtos mas decisivos para a “reunificação” de Deus e, presumimos, para a abolição, talvez temporária ou temporal (…) de uma realidade suja e corrupta.”


George Steiner, Paixão Intacta, Relógio d'Água Editores, Lisboa, 2003

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