«Pois tens de saber que nós poetas não podemos percorrer o caminho do belo sem que Eros nos acompanhe e se imponha como guia; queremos pensar que somos heróis nós também e castos guerreiros, mas mais não somos do que mulheres, pois a paixão é o nosso sustento, e o nosso desejo permanece amor - este o nosso prazer, esta a nossa vergonha. Vês agora que nós poetas não podemos ser sábios nem dignos? Que necessariamente erramos, necessariamente somos aventureiros libertinos das emoções? A mestria do nosso estilo é mentira e loucura, a nossa glória e a nossa honra mera farsa, desprezamos a confiança das massas, a educação do povo e da juventude é uma empresa danada, a proibir. Pois como pode ser mestre quem nasce com uma inclinação natural e incorrigível para o abismo?»
Thomas Mann, A Morte em Veneza, Lisboa: Relógio d'Água, 2004, p. 110.
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