Quando li o Satyricon bati-me com aquela desilusão um bocado cliché de aquilo nada ter que ver com o filme de Fellini. Aquilo que mais me enterneceu em Petrónio foi uma coisa que ouvi dizer a um professor e que de facto está patente no texto, ele é um autor incansável na contemplação que faz do espectáculo do mundo. Porque o mundo para ele é isso, um espectáculo. A contemplação crítica (acrescentaria o aluno diligente no rotineiro teste) do espectáculo do mundo.
Outra coisa que também estava em Petrónio foi uma frase que encontrei escrita anos mais tarde num livro de Agustina Bessa-Luís: «tinha pela humanidade um desprezo vernáculo, pio, à Petrónio.» Podíamos agora fazer um entimema: o desprezo que Petrónio tinha pela humanidade, pio e vernáculo, advinha-lhe da contemplação crítica do espectáculo do mundo.
Lembramo-nos depois da descrição que Tácito faz do suicídio do árbitro de elegâncias de Nero (que a maior parte dos ratos de biblioteca, perdão, estudiosos identifica como sendo o mesmo Petrónio que escreveu o Satyricon). Se a memória não me falha, e segundo o que conta Tácito, na noite em que foi suicidado (Nero foi o imperador que num curto espaço de tempo suicidou três lendas vivas, e portanto depois mortas, da literatura ocidental: Séneca; Lucano, Petrónio), Petrónio deu um banquete, juntou os amigos todos, organizou uma anacrónica pândega à Dostoievsky, e deteve-se a conversar com os seus convidados, abriu os pulsos e por duas ou três vezes estancou a hemorrogia para ficar mais um bocado à conversa, pelo prazer da conversa. E foi assim. Ele era esta contradicção em termos, entre o desprezo pio e a contemplação embevecida. Há que amá-lo.
Outra coisa que também estava em Petrónio foi uma frase que encontrei escrita anos mais tarde num livro de Agustina Bessa-Luís: «tinha pela humanidade um desprezo vernáculo, pio, à Petrónio.» Podíamos agora fazer um entimema: o desprezo que Petrónio tinha pela humanidade, pio e vernáculo, advinha-lhe da contemplação crítica do espectáculo do mundo.
Lembramo-nos depois da descrição que Tácito faz do suicídio do árbitro de elegâncias de Nero (que a maior parte dos ratos de biblioteca, perdão, estudiosos identifica como sendo o mesmo Petrónio que escreveu o Satyricon). Se a memória não me falha, e segundo o que conta Tácito, na noite em que foi suicidado (Nero foi o imperador que num curto espaço de tempo suicidou três lendas vivas, e portanto depois mortas, da literatura ocidental: Séneca; Lucano, Petrónio), Petrónio deu um banquete, juntou os amigos todos, organizou uma anacrónica pândega à Dostoievsky, e deteve-se a conversar com os seus convidados, abriu os pulsos e por duas ou três vezes estancou a hemorrogia para ficar mais um bocado à conversa, pelo prazer da conversa. E foi assim. Ele era esta contradicção em termos, entre o desprezo pio e a contemplação embevecida. Há que amá-lo.
Qual é o livro da Agustina? :p
ResponderEliminarJinhos.
Conversações com Dmitri e outras fantasias.
ResponderEliminarAbraço,
Tats.
Já tomei nota para as próximas leituras, obrigada. :)))))
ResponderEliminar(Ela é extraordinária, não é?)
Jinhos.
Sim e, como me parece que sucede com os nossos escritores extraordinários, um pouco injustamente esquecida, o que não pode ser.
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