Por vezes atraso-me um pouco para ir beber café e quando chego lá abaixo fico sentada ao pé do Sr. Mendonça e da esposa, um casal de reformados. O Sr. Eliseu, empregado do café (ficaria bem se eu agora acrescentasse há mais de quarenta anos, mas a verdade é que não faço a mínima ideia e não quero atraiçoar o Sr. Eliseu), atende-os quase sempre primeiro, o que só me chateia quando estou com pressa, ou quando cheguei primeiro que eles e não trouxe um livro ou outra companhia e estou a reparar nesses pormenores.
Como a maior parte dos homens em Babilónia, o Sr. Mendonça foi primeiro procônsul e depois escravo. A isto talvez importasse acrescentar que quase que posso apostar que o seu proconsulado se deu algures até um ano antes da segunda metade da década de setenta do século passado e que, segundo ele, a escravatura se deu depois. Digo isto por causa de uma ou outra diatribe saudosista a atirar para o neflibata em que ele às vezes se lança, sobretudo quando na mesa atrás dele se senta um animado grupo de antigos profissionais liberais, hoje em dia todos reformados, que à data do proconsulado do Sr. Mendonça deviam estar todos do outro lado da barricada. Anyway.
O Sr. Mendonça hoje não está em dia de diatribes e dedica-se a outro costume, o de ler A Bola. E o que ele lê ostensivamente não são as notícias de desporto mas a secção de anúncios ordinarotes do jornal. A esposa, que está com o Correio da Manhã em mãos, mas claramente indignada com o marido, muda também para a página equivalente no jornal dela. Vai daí, ele põe um ar escandalizado e diz-lhe que uma mulher séria e uma mãe de família não lê coisas daquelas. Eu bebo o meu café e desando.
Há estas pessoas que de vez em quando vejo juntas, que calculo que estão juntas há décadas, que não consigo perceber se se enervam mutuamente porque já não têm nada a dizer uma à outra mas permaneceram juntas pelo hábito e agora o desporto que lhes resta é envenenar as respectivas existências ou se se enervam mutuamente porque ainda gostam bastante uma da outra.
Como a maior parte dos homens em Babilónia, o Sr. Mendonça foi primeiro procônsul e depois escravo. A isto talvez importasse acrescentar que quase que posso apostar que o seu proconsulado se deu algures até um ano antes da segunda metade da década de setenta do século passado e que, segundo ele, a escravatura se deu depois. Digo isto por causa de uma ou outra diatribe saudosista a atirar para o neflibata em que ele às vezes se lança, sobretudo quando na mesa atrás dele se senta um animado grupo de antigos profissionais liberais, hoje em dia todos reformados, que à data do proconsulado do Sr. Mendonça deviam estar todos do outro lado da barricada. Anyway.
O Sr. Mendonça hoje não está em dia de diatribes e dedica-se a outro costume, o de ler A Bola. E o que ele lê ostensivamente não são as notícias de desporto mas a secção de anúncios ordinarotes do jornal. A esposa, que está com o Correio da Manhã em mãos, mas claramente indignada com o marido, muda também para a página equivalente no jornal dela. Vai daí, ele põe um ar escandalizado e diz-lhe que uma mulher séria e uma mãe de família não lê coisas daquelas. Eu bebo o meu café e desando.
Há estas pessoas que de vez em quando vejo juntas, que calculo que estão juntas há décadas, que não consigo perceber se se enervam mutuamente porque já não têm nada a dizer uma à outra mas permaneceram juntas pelo hábito e agora o desporto que lhes resta é envenenar as respectivas existências ou se se enervam mutuamente porque ainda gostam bastante uma da outra.
agrada-me pensar que é mais a segunda... bem mais, do que a primeira (hopefully).
ResponderEliminarnunca se saberá
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