terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O que tu tens da andorinha (II)


«O que tu tens da andorinha/ é a errância pouco austera;/ o que para mim, que me sentia e era/ velho, anunciava uma outra primavera.» Umberto Saba

O que há para amar nestes versos é a maneira como neles se insinuam, sem se anularem, três formas de movimento, o facto de ser tua a errância pouco austera da andorinha, o que com tanta concisão fala da forma leve e quase leviana como te moves e é uma evocação de juventude mas também de inconstância, a forma como isso contrasta comigo, que me «sentia e era velho», eu com a minha imobilidade de pedra de velho, e, afinal e por remate, como deste contraste se ergue a visão inteira e intacta da primavera. Por meio desta densa concisão se demonstra que era Umberto Saba grande poeta. Mas, na verdade, tudo isto serve apenas para dizer que nunca mais é Março.

1 comentário: