A memória foi um género literário
quando ainda não tinha nascido a escrita.
Veio a ser depois crónica e tradição
mas já fedia como um cadáver.
A memória vivente é imemorial,
não surge da mente, não se enraiza nela.
Junta-se ao existente como uma auréola
de névoa na cabeça. Está já esfumada, é duvidoso
que regresse. Nem sempre tem memória
de si.
Eugenio Montale, Caderno de Quatro Anos, in Poesia, trad. de José Manuel de Vasconcelos, Assírio & Alvim, Lisboa, 2004.
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