"Os poetas da Antologia Grega dizem-nos de maneira inequívoca que, à medida que a pilosidade do adolescente vai aumentando, a sua atracção sexual vai diminuindo. Grande parte dos epigramas subordinados a este tema apresentam-nos um amante desolado e, talvez, um pouco repugnado pela chegada de pêlos vários em partes diferentes do corpo do amado. (Os pêlos públicos, porém, não são objecto de queixa.) O aparecimento da barba é tido como o momento decisivo, a partir do qual o papel do amante "passivo" é, além de indesejável, moralmente condenável. Num poema (XII.228), o amante convence o amado de que a idade em que ele está é a idade própria para aceitar o papel passivo; por outro lado, noutro epigrama (XII.225), há um amante que acusa outro de manter relações com amados demasiados velhos. Os pêlos são referidos de muitas maneiras: como um castigo que Némesis dá aos rapazes arrogantes (XII.186, 193, 229); como a razão pela qual ontem o amado era Troilo e hoje é Príamo (XII.191). "Assim como uma linda flor murcha com o calor, a beleza murcha com um pêlo" (XII.195)."
Frederico Lourenço, "Os Poemas de Estratão de Sardes", in Novos Ensaios Helénicos e Alemães, Lisboa, 2008
Frederico Lourenço, "Os Poemas de Estratão de Sardes", in Novos Ensaios Helénicos e Alemães, Lisboa, 2008
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