segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Aqui a vida é uma poeira arrastando.
As lanças deixam ficar por toda a parte
alguma coisa do seu calor
mesmo se o nevoeiro envolve o corpo.

Suporto o sol a trajectória do tiro
o agasalho farrapo onde embalo a noite
do acampamento
é o próprio frio desdobrando a mesquinha

morte. Morte chega aos olhos a tua cor
e apaga-os.
Os ratos. Os ratos brancos e cegos de
Mafra estão aqui nestes corredores e

nestas pedras. Carregando de poeira
aqui a vida todos a trazem à altura do
coração e a perdem nos caminhos e dizem
aos vossos destinos

mas o destino aqui não se lê nem escreve.
Histórias de coragem e expiação
contadas almas que cumpriram o tempo do
medo comum a paz impraticável ou o verso.

João Miguel Fernandes Jorge, À Beira do Mar de Junho, Na Regra do Jogo, 1982

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