domingo, 28 de fevereiro de 2010

Uma versão do sétimo poema de «La poesia delle rose»

E não. Deixa que se precipitem os últimos rios de um irónico inferno
num rumor de fontes, de quedas de água.
Antes regressasse um só curso de água, o verdadeiro.
Deixa que me abandonem agora as alegorias.
Tu devias ter sabido antes, como eu agora sei,
que regressarias ao frio, ao desejo, ao espinho,
à palavra despida de significado, a uma possível e lenta
ciência, ao sol que despe de cor o Indo e o Nilo,
pétala de história imperceptível.

Mas como poderei distinguir amanhã
as rosas fenecidas, as vivas? Afasto-me daqui
onde me tomou, e regressará, minha loucura:
também para essa peço justiça e amor.
Para ti que ainda dormes: quero que nada te perca.
Ainda que sempre, ainda que sem piedade, o romper da aurora,
que tão débil faz a luz na lonjura,
de um ponto mais alto destrua a tua mais alta esperança,

ainda que o pequeno esmague o mais pequeno,
ainda que cetónias dilacerem o futuro
com as suas insignificantes presas, ainda que culpa e esperança
sejam duas faces de um só mal que nos separa e obstina,
longe, para lá dos salgueiros que nos maceram
e que povoam estes lugares, o ar será sempre este, fino e negro.

Vida longa para a rosa da primavera. Vida longa
para a erva, para as flores, para os beijos, para a dor.

(Versão minha de) La Poesie delle rose, 7, de Franco Fortini. Poema incluído em Italian Poetry: 1950 to 1990, Ridinger and Renello (eds.), Dante University Press, 1996.

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