segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Pecado

Não eram tentações estas coisas, não, mas consolações piedosas da sua alma, a satisfação do que lhe fugira, a plenitude do que não tivera, a saciedade do que não bastara, a conquista do que jamais pudera ter sido seu. Pecado é sonhar com o futuro: desejar a mulher que se viu neste instante, querer com fúria o que é dado a outros, invejar furiosamente, como coisa que nos foi roubada, a felicidade alheia que está dançando, sem vergonha, diante dos nossos olhos que param a vê-la.

Jorge de Sena, «Super flumina Babylonis», A Arte de Jorge de Sena: Uma Antologia, Jorge Fazenda Lourenço (ed.), Relógio d'Água, 2004

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