quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Os Arautos Negros

Há pancadas tão fortes na vida... Eu sei lá!
Pancadas como do ódio de Deus; como se sob elas
a ressaca de todo o sofrimento
estagnasse na alma... Eu sei lá!

Poucas, mas acontecem...Abrem leivas escuras
no rosto mais duro e no dorso mais forte.
Serão talvez os potros de átilas selvagens;
ou os arautos negros que nos envia a Morte.

São as profundas quedas dos Cristos da nossa alma,
de uma fé adorável que o destino blasfema.
Tais pancadas sangrentas são as crepitações
de um pão que à porta do forno se nos queima.

E o homem...Pobre...Pobre! Volta os olhos, como
quando em seu ombro uma palmada o vem chamar,
volta os seus olhos loucos, e todo o já vivido
como um charco de culpa estagna em seu olhar.

Há pancadas na vida tão fortes...Eu sei lá!

César Vallejo, Antologia Poética, José Bento (trad.), Relógio d'Água, 1992

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