Há três dias atrás vi um filme muito, muito bom. Chamava-se Running on Empty e foi realizado por Sidney Lumet, em 1988. A personagem principal é um rapaz chamado Michael que na verdade se chama Daniel. Daniel e a interpretação dos sonhos e a cova dos leões. O filme não é sobre isso, é sobre coming of age. Não sei se temos uma expressão para dizer isto. Se temos não me ocorre. É uma personagem admirável este Daniel, porque o River Phoenix fez de facto um trabalho excelente a dar-lhe vida. É tudo, desde a cena inicial, em que ele aparece a tentar segurar os óculos na cara e vai falhando sucessivamente as bolas de um jogo de basebol até que finalmente acerta. Uma vida arrumada no meio do caos. A família de Daniel no início do filme abandona um cão e acaba por abandoná-lo a ele, ou melhor, não é abandoná-lo, é como quem diz: para crescer é preciso ser entregue à vida. Não sei se isto é freudiano. Acho que não. Sempre achei que Freud acerta muito pouco. A vida concreta às vezes vem como se fosse de pedra. Há coisas que escapam às palavras: precisam de acontecer, acontecem simplesmente. É uma das coisas que sempre me fez achar maravilhoso o cinema, quer isto dizer: admito que a desvantagem de um bom filme sobre um bom livro é o facto de as imagens acontecerem diante dos nossos olhos, nos livros em face da nossa imaginação, da nossa expectativa.
É um filme do Sidney Lumet mas parece Clint Eastwood no seu melhor. No pun intended.
É um filme do Sidney Lumet mas parece Clint Eastwood no seu melhor. No pun intended.
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