À morte de Alexandre, o império que ele tinha reunido é repartido pelos seus generais. Ptolemeu, o filho de Lago, que mais tarde receberá a alcunha de Soter (o «Salvador»), em parte para o distinguir dos restantes elementos da dinastia por ele fundada, fica com uma das melhores partes do império, o Egipto.
A Alexandria que Alexandre aqui fundara (existiam várias «Alexandrias» por ele fundadas) era uma das cidades mais encantadoras do mundo, e Ptolemeu, que era um homem dado às letras (dele é uma biografia de Alexandre), resolve converter Alexandria no centro do mundo mediterrânico. Um dos principais pontos da execução deste plano passava por converter Alexandria num centro cultural.
Resolve para isso ir buscar o sábio mais reputado do seu tempo, um tal de Teofrasto, discípulo de Aristóteles, que, morto o mestre, ficara à frente do Liceu. Mas Teofrasto não estava para aí virado, nem a oferta do seu peso em ouro o poderia demover de abandonar Atenas.
Sucede que havia um discípulo de Teofrasto, por sinal bastante talentoso, que se viu a braços com a justiça ateniense por ter posto a mão onde não devia, ou seja, em dinheiros públicos. Chamava-se este discípulo Demétrio de Falero, outro ateniense (Falero era o outro porto de Atenas, além do Pireu). Uma vez que o problema de Demétrio era dinheiro, Ptolemeu oferece-lhe a solução. Em 297 a. C., Demétrio foge de Atenas.
Com recursos ilimitados, Demétrio planeia um programa cultural que viria a perdurar por três séculos. Este programa previa a instituição, entre outras coisas, de um Museu e de uma Biblioteca. Museu não é no sentido que hoje em dia lhe damos, corresponderia, mais ou menos, a uma espécie de centro de estudos, para onde gradualmente foram sendo desviados os homens mais brilhantes daquele tempo.
A analogia que melhor descreve a essência deste complexo planeado por Demétrio é a comparação com Cambridge ou Oxford (mas sem a vertente do ensino, apenas a da investigação). A Biblioteca seria sobretudo uma biblioteca de conservação e de apoio à investigação, a ideia era reunir no mesmo espaço todos os livros alguma vez produzidos.
A Biblioteca de Alexandria é a lendária biblioteca da Antiguidade, nela se estabeleceu a maior parte do cânone da literatura antiga, nela se começou a fazer de forma sistemática aquilo que actualmente corresponderia aos nossos estudos filológicos e literários, ao mesmo tempo que novas formas de literatura floresceram.
Este imenso complexo, com uma intensa vida académica, teve apenas uma rival, e pouco feroz, se comparada com ela: a capital dos Atálidas, Pérgamo.
O que me impressiona quando penso na Biblioteca de Alexandria, além da frustração que causa a qualquer filólogo pensar em tudo quanto lá se perdeu, são os números. Quando Ptolemeu Filadelfo (sucessor do Soter, a alcunha deste significa algo como «aquele que ama a irmã») ascendeu ao trono, a biblioteca tinha duzentos mil volumes. Quando Calímaco (sim, é esse Calímaco) se torna o bibliotecário responsável, o número de volumes ascendia a quatrocentos mil. Quando se dá o primeiro incêndio, em 48 a. C., a Biblioteca tinha setecentos mil volumes. Bastante impressionante.
A Alexandria que Alexandre aqui fundara (existiam várias «Alexandrias» por ele fundadas) era uma das cidades mais encantadoras do mundo, e Ptolemeu, que era um homem dado às letras (dele é uma biografia de Alexandre), resolve converter Alexandria no centro do mundo mediterrânico. Um dos principais pontos da execução deste plano passava por converter Alexandria num centro cultural.
Resolve para isso ir buscar o sábio mais reputado do seu tempo, um tal de Teofrasto, discípulo de Aristóteles, que, morto o mestre, ficara à frente do Liceu. Mas Teofrasto não estava para aí virado, nem a oferta do seu peso em ouro o poderia demover de abandonar Atenas.
Sucede que havia um discípulo de Teofrasto, por sinal bastante talentoso, que se viu a braços com a justiça ateniense por ter posto a mão onde não devia, ou seja, em dinheiros públicos. Chamava-se este discípulo Demétrio de Falero, outro ateniense (Falero era o outro porto de Atenas, além do Pireu). Uma vez que o problema de Demétrio era dinheiro, Ptolemeu oferece-lhe a solução. Em 297 a. C., Demétrio foge de Atenas.
Com recursos ilimitados, Demétrio planeia um programa cultural que viria a perdurar por três séculos. Este programa previa a instituição, entre outras coisas, de um Museu e de uma Biblioteca. Museu não é no sentido que hoje em dia lhe damos, corresponderia, mais ou menos, a uma espécie de centro de estudos, para onde gradualmente foram sendo desviados os homens mais brilhantes daquele tempo.
A analogia que melhor descreve a essência deste complexo planeado por Demétrio é a comparação com Cambridge ou Oxford (mas sem a vertente do ensino, apenas a da investigação). A Biblioteca seria sobretudo uma biblioteca de conservação e de apoio à investigação, a ideia era reunir no mesmo espaço todos os livros alguma vez produzidos.
A Biblioteca de Alexandria é a lendária biblioteca da Antiguidade, nela se estabeleceu a maior parte do cânone da literatura antiga, nela se começou a fazer de forma sistemática aquilo que actualmente corresponderia aos nossos estudos filológicos e literários, ao mesmo tempo que novas formas de literatura floresceram.
Este imenso complexo, com uma intensa vida académica, teve apenas uma rival, e pouco feroz, se comparada com ela: a capital dos Atálidas, Pérgamo.
O que me impressiona quando penso na Biblioteca de Alexandria, além da frustração que causa a qualquer filólogo pensar em tudo quanto lá se perdeu, são os números. Quando Ptolemeu Filadelfo (sucessor do Soter, a alcunha deste significa algo como «aquele que ama a irmã») ascendeu ao trono, a biblioteca tinha duzentos mil volumes. Quando Calímaco (sim, é esse Calímaco) se torna o bibliotecário responsável, o número de volumes ascendia a quatrocentos mil. Quando se dá o primeiro incêndio, em 48 a. C., a Biblioteca tinha setecentos mil volumes. Bastante impressionante.
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