quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Inseparável do medo é a queda,
Medo é mesmo do vazio o sentimento.
Quem das alturas nos atira a pedra,
Rejeitando ela o jugo do momento?

E tu, com teus passos hirtos de monge,
Mediste em tempos a nave empedrada:
Calhaus e sonhos rudes — não está longe
A sede de morte, a grandeza ansiada!

Maldito sejas, gótico abrigo,
Quem entra é pelo tecto enganado,
Na lareira não arde o lenho amigo.

Vivendo eternidade poucos haja,
Mas, viver ao momento subjugado —
Que terrível sorte e que frágil casa!

Ossip Mandelstam, Guarda minha Fala para Sempre, trad. Nina Guerra e Filipe Guerra, Assírio & Alvim, Lisboa, 1996

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