Inseparável do medo é a queda,
Medo é mesmo do vazio o sentimento.
Quem das alturas nos atira a pedra,
Rejeitando ela o jugo do momento?
E tu, com teus passos hirtos de monge,
Mediste em tempos a nave empedrada:
Calhaus e sonhos rudes — não está longe
A sede de morte, a grandeza ansiada!
Maldito sejas, gótico abrigo,
Quem entra é pelo tecto enganado,
Na lareira não arde o lenho amigo.
Vivendo eternidade poucos haja,
Mas, viver ao momento subjugado —
Que terrível sorte e que frágil casa!
Ossip Mandelstam, Guarda minha Fala para Sempre, trad. Nina Guerra e Filipe Guerra, Assírio & Alvim, Lisboa, 1996
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